segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Um instante dentro do ônibus

          Nem acredito que estou atrasada! Quantas e quantas vezes olho no relógio e parece que as horas não passam. O ponto está lotado! Uma mulher fala alto com um senhor já de tenra idade. A voz dela entra na minha cabeça como as badaladas do sino da igreja. Ando de um lado a outro e parece que as minhas pernas não estão sendo controladas por mim. “Daqui a pouco vou fazer um buraco no chão.” – penso. Novamente olho para o relógio e o ponteiro só passou dois pontinhos. Novamente percebo o quanto estou atrasada. Meu coração parece que vai sair do meu corpo. Pego o celular para passar o tempo. Finjo ligar a alguém, mas todos estão trabalhando. O ônibus não chega e eu nessa agonia.
            De longe avisto aquele baú de rodas. Ao chegar mais perto percebo o quanto está lotado. Meu Deus! Penso no trabalho que vai dar para passar pela catraca. Uma fila para subir. Não sei de onde veio tanta gente para entrar no ônibus. A senhora tagarela encrencou na catraca. Parou para procurar o sit-pass na bolsa na hora da entrada. Todos gritam. O último da fila empurra dizendo para andar logo. O senhor bate boca com o rapaz atrás. O motorista perde a paciência. Acelera o ônibus avisando que vai deixar o pessoal que está enrolando. A mulher acha o passe e ultrapassa a catraca. A fila anda. E o ônibus se enche até a porta. Ninguém mais entra.
            Na próxima parada parece que fica mais folgado. Consigo me mexer, mas sem sair do lugar. Uma bolsa acerta a minha face. A dona da bolsa nem se toca. Finjo que não aconteceu nada. Duas mulheres falam da vida alheia. Meus ouvidos estão cansados de tanta asneira. Do meu lado outra mulher reclama da vida, do ônibus cheio, da filha, do marido, das pessoas e até do motorista. Olho para o relógio e peço a Deus para acalmar a professora que já iniciou a sua aula.
            Percebo que estou chegando à parada de ônibus próximo à faculdade. Começo a me mexer. Não consigo. Cutuco as mulheres a minha frente. Em vão. Fingem não me ver. Fico desesperada. Meu ponto está chegando e não consigo sair daqui. Olho no vão que as duas potrancas se ligam. Cada uma mais avantajada que a outra. Indignada penso que deveriam intercalar para dar espaço para as pessoas passarem e fazerem um zig-zag. Empurro, tento passar pelo vão que elas fazem. Nada. Grito:”Vou descer!” uma das mulheres se toca e da mais um espaço para passar. Aperto e consigo passar depois de ser amarrotada. Meu cabelo bagunçou. Que importa. Pelo menos consegui descer.