quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Os sinais do tempo



Hoje, olhei-me ao espelho e vi algo diferente. Uma tenra e delicada linha de expressão evidenciava o sinal do tempo em minha face. Imediatamente busquei algum creme que pudesse suavizar essa visível ruga. Meus disfarces eram vãos. As variadas marcas de cremes ati-idade enchiam a minha penteadeira já descascada e muito desgastada pelo tempo. Passei, como quem quisesse esconder algo. Para mim, estava tudo encoberto, as lembranças, a vida, as rugas, o tempo. Por um momento esqueci as rugas quando a campainha tocou.


Eram pessoas que estavam ali para dizer um olá. Acredito que olhavam para a minha face, numa vontade de dizer "Nossa, como você envelheceu!" Sei que se contiveram para não dar muito na cara e me fazer ficar mais triste. Eu sabia que era mais de cinco décadas e a rugas não eram tão suaves assim. Minha irmã me denunciava por ser três anos mais velha e estava com aquele corpinho de jovem. Não sei onde arrumava tanta disposição para malhar tanto. E as plásticas? Eram tantas que já tinha perdido a conta. Só sei que eu estava cansada e queria ao menos ouvir o meu bolero solitário.


Fiz sala, como de costume. Não sei de onde ela tirava tanta história para contar. O tempo foi passando. Os outros foram embora. Nós duas ficamos ali, cara a cara, diante de um lapso de silêncio. Olhei-a profundamente, lembrei de nossa infância, das nossas brigas por causa de namorado. Eu estava ali diante dela, percebendo a diferença entre nós duas.


Após o almoço, ela foi embora. Voltei ao meu quarto. Parei-me diante daquele espelho. A minha face continuava a mesma. Os cremes não fizeram efeito. Chorei. Aquilo não resolveria mais, Contentei-me. Deitei-me em profundas lembranças. Um choro, um riso, um medo tomou conta de repente e logo, tranquilamente, dormi.

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